domingo, 18 de setembro de 2016

Porção de universo



Porção de universo;;

Tenho magnésio no cérebro,
mas não sou um planeta.
Sinto CO2 nos pulmões,
como se fosse um cometa.

Hidrogénio corre-me nas veias,
tenho ossos de cálcio,
por agora não explodi,
mas sou feito de potássio.

Com ADN de fósforo,
ainda não faço chama,
65% oxigénio,
um ser topo de gama!

Sou uma porção de universo,
mesmo muito peculiar:
Não acolho planetas,
passo a vida a imaginar.

Sou uma porção de universo,
mesmo muito invulgar:
Registo memórias em verso,
para mais tarde relembrar.

Crio então outra realidade,
sem os mesmos materias:
Torno pensamentos em palavras,
tornado-os imortais.

17/18 de setembro de 2016, inspirado em "93 percent stardust" de Nikita Gil

terça-feira, 5 de abril de 2016

Sociedade de Formigas


Sete da manhã, Acordar. Despachar-se à pressa. Ir para o emprego. Fazer o mesmo que outros milhões. Esperar pelo fim-de-semana. Contar os dias para as férias. Pelos vistos é a isto que chamam de viver, viver com liberdade. As pessoas realmente têm maneiras irónicas de ver as coisas, vivem com a ilusão de que estão a desenhar o seu caminho na direção de que desejam, na ilusão de que todo o seu percurso é muito mais do que um trajeto com todas as etapas completamente definidas, acham que ao escolher entre um dos vários futuros já definidos estão a ser elas próprias. São seres engraçados, pássaros que voam numa gaiola achando que estão no céu. Mas o problema é que o verdadeiro céu acabou por se tornar na gaiola, como podemos sair deste ciclo vicioso de pequenas formigas que desempenham um papel muito específico e que ensinam as suas descendentes a fazer o mesmo que elas já fizeram e passar a um mundo de manchas coloridas com as mais distintas formas que se projetam onde e como lhes apetece? Voltando ao nosso ser engraçado, temos um médico, será que se recuássemos até ao nascimento do nosso médico e o deixássemos crescer num mundo onde aprendia o que quissesse por iniciativa própria e não houvessem qualquer tipo de influências monetárias ou familiares, ou qualquer tipo de escola, essa pessoasinha iria explorar e autodescobrir-se e acabaria por decidir que onde era verdadeiramente feliz a viver o resto da sua vida era a diagnosticar e tentar curar doenças? Penso que não, esse mundo hipotético seria uma boa solução para o nosso, mas o problema é que o mundo não poderia ser assim. Seriamos um pouco mais livres mas nada organizados. E os nossos pequenos seres querem tudo, organização e liberdade, acho que nem se apercebendo de que são ideias opostas. Ninguém consegue tornar livre uma sociedade organizada, nem ninguém consegue organizar uma sociedade que quer continuar livre.

 Eu não sou um desses seres engraçados, mas estou presa dentro de um, pelo menos é assim que eu me sinto, tenho a minha liberdade presa na prisão perpétua que eu própria sou. Se eu mandar, as minhas grades andam, escrevem... são flexíveis e até um pouco obedientes, fazem o que digo mas não me deixam sair, obrigam-me a carregá-las para onde quer que vá. O monstro da sociedade tenta fazer-me pensar que eu sou as grades que carrego, mas sei que não, sou algo muito maior, enorme, diria até gigante, tão grande que não ocupa espaço nenhum. Espacialmente, não passo de um monte de nada. Mas sou muita coisa. Há quem diga que somos as ações que praticamos, ou aquilo que comemos (e isso até que está cientificamente correto) mas nada mais nada menos somos do que aquilo  que pensamos. A vida não passa de uma sequência de pensamentos, da interpretação e de tudo o que pensamos acerca do mundo, porque todos, mesmo todos, os momentos não passam dos pensamentos que temos sobre eles. Somos todos pensamentos que carregam as suas grades, e se queremos encontrar a, já referida anteriormente, liberdade, não será de certo em nossa casa, na sociedade, nem no mundo. Será dentro de nós, na nossa mente, é disso que a vida é feita, é verdade que sem vida não haveria pensamentos, mas sem pensamentos também não haveria vida. É aí que está a nossa oportunidade de sermos livres, livres presos dentro de nós. Interpretamos o mundo como queremos e vivemos num mundo nosso, criamos o que queremos, somos como queremos e a vida até pode parecer um jogo, é aí que está a tua liberdade, quase só aí, lembra-te sempre, não deixes que te fechem os olhos, PENSA.

Texto escrito a 5 de Abril de 2016, com 14 anos, por vir a ter de escolher uma área no secundário quando tinha interesse em várias.